sábado, 1 de agosto de 2015

Análise: The Magic Circle

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Não se deixem enganar pela crítica especializada! The Magic Circle  NÃO É SÓ um jogo que funde Tiro em Primeira Pessoa, Humor, Sandbox, Puzzle e Mistério. Colocado dessa forma, ele parece bem menor do que realmente é: um dos únicos (se não for o único, já que não consegui nenhuma informação sobre isso hehehe) games metalinguísticos disponíveis por aí. 

Em uma onda cada vez mais crescente de jogos independentes disponibilizados na Steam, The Magic Circle chamou a atenção pela criatividade e pelo senso de humor altamente irônico. Na mais nova produção da Question Games, o jogador incorpora o HERO de um jogo ainda na fase de desenvolvimento — quase nada possui cor, há vários glitches ocorrendo e, à medida que o personagem anda, os game developers discutem sobre o que vai acontecer no jogo. No meio disso tudo, um personagem esquecido da primeira versão do jogo (que também é o narrador) pede a sua ajuda para tirá-lo do limbo dos códigos do jogo e, ao mesmo tempo, destruir o projeto.

Até aí, nada de muito diferente, né? Calma que a gente chega lá.


Simples, mas diz muita coisa

Traços riscados, modelos inacabados e "3D pontudo" são as características gráficas principais de The Magic Circle. E mesmo com gráficos "mal-feitos", o indie possui uma estética bem bonita. Tudo é muito espaçoso e livre, o mapa é bem intuitivo, os detalhes são bem destacados e a cor — quando usada — é bem viva. Algumas partes — como as paredes e a lava — possuem buracos que, às vezes, confundem o jogador. Mas, para um jogo que fala sobre um jogo inacabado, não podemos dizer se isso é uma falha ou um acerto.

Assim como faz Shovel Knight com sua arte em bits, The Magic Circle mostra que é possível fazer um jogo esteticamente atraente sem precisar de gráficos realistas e polidos.

No quesito trilha sonora, o jogo ainda permanece com a mesma ideia de "imperfeição": são músicas que começam do nada e terminam do nada (sem aqueles fade-in/fade-out), trilhas que não combinam com o ambiente e sonoplastia bem repetitiva. Com exceção da dublagem dos produtores, que é muito bem feita, todos os sons do jogo retratam bem um "amadorismo". De novo: não podemos saber se essa era a intenção da Question Games ou se foi mera preguiça mesmo.

Mas nada diz mais do que uma pedra que flutua, cospe fogo e tem poder de controlar mentes 

Em geral, a jogabilidade se baseia toda na habilidade do HERO de editar os monstros do jogo inacabado. Qualquer objeto ou inimigo pequeno pode ser preso em uma armadilha dimensional que permite que o jogador entre em seu código e o modifique ao seu bel prazer. É possível mudar desde o nome e a locomoção até os poderes especiais e as amizades

Só para melhor exemplificar, eu, no final do jogo, tinha como amigos uma pedra que soltava fogo, flutuava e conseguia controlar as mentes dos outros monstros, uma estação de teleporte à prova de fogo que voava e atacava com mordidas e um rato cibernético à prova de fogo desenhado em bits que dava choque. E, claro, todos meus inimigos derrotados acabavam se chamando "Dick". Sim, eu sou bem maduro. 

Com esse poder, o jogador deve explorar as cavernas, solucionar os desafios e derrotar os chefões e conseguir destruir o jogo antes que ele seja demonstrado na fictícia E4. Nada muito difícil, mas não deixa de ser um game que faz o jogador pensar.

Ria deles enquanto eles riem de você

Além de fazer o jogador pensar, The Magic Circle também vai gerar boas risadas. Piadas sobre o mundo dos games, das decisões durante o desenvolvimento e das técnicas de venda de jogos aparecem toda hora, principalmente por meio do narrador. A cena em que o deus da história do jogo aparece para HERO, logo no começo, por exemplo, é tão hilária que eu tive que dar pause até acabar de rir. 

E o pior é que, em todo lugar que você for, vai ter uma piadinha, mesmo que infame. Até mesmo no título! Leva o nome de The Magic Circle e o símbolo é um quadrado!

Mas depois de um tempo, as risadas diminuem. Não porque o jogo vai perdendo a graça. Longe disso! É que, com o decorrer da história, as piadas começam a se dirigir ao próprio jogador e a maneira como estamos acostumados a ver os jogos. No final, já não há mais piadas, e sim uma crítica ferrenha a como fomos "domesticados" pela indústria de games.

"Eu queria que você brincasse de Deus por um dia. Mas não por causa da minha grandeza de espírito. Heh. Mas sim por causa que agora há uma chance, de uma em um zilhão, que 'divertido' não será o bastante para você. Talvez agora você queira um mundo que seja só seu, possível de ser moldado pelas suas próprias mãos. E talvez, na sua história, no seu mundo, eu não consiga ver o final chegando" — Narrador.


Conclusão

Além de fazer o jogador refletir sobre a sua condição de gamer, The Magic Circle também embaralha nossa percepção de jogo: existem momentos que você tem que fazer o próprio caminho, outros que o segredo é voltar para a tela inicial, os créditos não aparecem no final do jogo (e sim em quatro minutos de jogo!)... Pequenas coisas que podem até parecer estranhas no começo, mas que depois se tornam memórias de um jogo muito criativo, inteligente, crítico e divertido.

Com mais ou menos seis horas de gameplay, The Magic Circle é um jogo para ser jogado uma única vez. Mas não por ser ruim ou enjoativo (ele até tem pequenos itens colecionáveis para quem quiser se aventurar), mas sim por ser uma daquelas experiências que, se forem revividas, correm o risco de perderem a força.

Se The Magic Circle não for um marco na história dos games, pelo menos vai ser um marco na minha história de gamer.
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Escrito por

Núcleo de jornalismo de tecnologia e games da Universidade Federal de Santa Catarina. Criado por estudantes, coordenado por estudantes e mal redigido por estudantes

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