terça-feira, 15 de setembro de 2020

Tell Me Why: Capítulo Final - ANÁLISE

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O terceiro e último capítulo do novo jogo narrativo em formato episódico da DONTNOD Entertainment em parceria com a Xbox Game Studios, Tell Me Why, foi lançado na última quinta-feira (10). Venha conferir o que achamos do encerramento do game e se ele cumpriu nossas expectativas!

É difícil dizer adeus. E com Tell Me Why não foi diferente.

Um sentimento de despedida e de separação rege a grande final do game, junto da constatação agridoce de que, para se seguir em frente, é necessário abrir de mão de algumas certezas.

A primeira metade do capítulo "Herança" acompanha Alyson e suas questões psicológicas. Como previsto, a irmã Ronan é sem dúvidas quem mais está sofrendo ao se ver diante de um passado trágico que por anos tentou esquecer e ignorar. 

A abordagem do que se passa na mente dela ao ter que encarar seus fantasmas de frente é delicada e emocionante. O jogo nos coloca na pele da personagem que enfrenta um nítido estresse pós-traumático que impactou profundamente a maneira como ela enxerga a si própria e se relaciona com as pessoas e com o ambiente ao seu redor. 

Ao negligenciar sua necessidade por ajuda, Alyson desenvolveu bloqueios que a impedem de seguir em frente com a sua vida. “E a única maneira de seguir em frente é prosseguir olhando para trás”, como declara a própria personagem em dado momento do jogo.

Além da incrível sequência na perspectiva de Alyson, que conta até mesmo com a reprodução de um ataque de pânico retratado de uma maneira muito real e impactante, o jogo aproveita seu último capítulo para explorar ainda mais os cenários da fascinante e encantadora Delos Crossing.

Gosto muito de como o roteiro se preocupa em revisitar mais de uma vez locais já estabelecidos na trama, construindo um vínculo emocional com a cidade e as locações e aprofundando a experiência de imersão. Ao mesmo tempo que nos leva para um frio Alasca, a atmosfera de Tell Me Why aquece nossos corações ao despertar sentimentos de familiaridade e nostalgia, tornando praticamente impossível não se identificar com quaisquer das questões abordadas ao longo da trama.

Aqui, revisitamos alguns rostos já conhecidos, como Eddy, Sam e Tom, e entendemos melhor suas motivações e a natureza do relacionamento dos habitantes com Mary-Ann. As revelações vão de pouco em pouco montando o grande quebra-cabeça por trás da misteriosa história da mãe dos gêmeos Ronan, ajudando os irmãos a compreender o papel que eles mesmos desempenham nessa mesma história.

O grande clímax do capítulo consiste em uma série de puzzles com uma estética fantasiosa que remete automaticamente a jogos de história e exploração como Gone Home e What Remains of Edith Finch. Os contos de fadas se entrelaçam com a realidade em uma sequência criativa de encher os olhos. 

Mas não se preocupe! O jogo, apesar de tudo, ainda mantém os pés no chão e se compromete com o concreto, fazendo uso dos elementos sobrenaturais como meras ferramentas para auxiliar a narrativa. Afinal, já aprendemos com Life is Strange que o foco jamais é o sobrenatural, mas sim os dilemas da vida real e os dramas familiares.

Quanto aos puzzles em si, acho que esse é sem dúvidas o capítulo que melhor fez uso do recurso do Livro dos Goblins. Apesar dos puzzles não serem distribuídos de maneira equilibrada e proporcional ao longo da gameplay de modo que justifique o uso desse item constantemente, aqui o livro se torna essencial para a compreensão – quase – integral da história. 

Aliás, ponto positivo pelo minigame de pesca – poder acariciar cãezinhos ou ter minigame de pesca são requisitos essenciais para um jogo ser considerado bom, ok?

As escolhas de fato interferem no final de cada jogador. Isso não ocorre de uma maneira tão marcante como em títulos anteriores da DONTNOD, mas há sim uma variação considerável tanto em pequenas escolhas quanto em escolhas tidas como mais definitivas para o desfecho da história e o destino das personagens envolvidas.

Não vá esperando grandes reviravoltas ou momentos intensos – a carga do jogo é fundamentalmente emocional. Talvez Tell Me Why seja o jogo mais minimalista da DONTNOD até então, desde o pequeno núcleo de personagens até a história central em si. E isso é ruim? De maneira alguma. Acho que o jogo cumpre o que promete ao entregar uma história envolvente e consistente, boas personagens e uma campanha inspirada e delicada, que nos faz repensar os videogames como plataforma de arte e entretenimento muito além de sequências de ação grandiosas e tiroteios desenfreados – que são igualmente válidos, mas têm o seu momento.

A lição final de Tell Me Why é de que é preciso aceitar que nem sempre teremos todas as respostas que buscamos e devemos aprender a lidar com isso de maneira saudável. O jogo mostra como as nossas memórias e lembranças podem nos enganar e desempenham um papel fundamental na construção de quem somos e de quem eventualmente nos tornamos. A jornada de autodescoberta e superação dos gêmeos Alyson e Tyler é extremamente íntima, e juntos eles desenvolvem maturidade emocional e são finalmente capazes de compreender o seu papel no mundo.

Tell Me Why pode não ser um jogo perfeito, mas ele encontra em suas fraquezas e limitações técnicas fôlego para sustentar uma história com muito coração.

Todos os três capítulos de Tell Me Why já se encontram disponíveis na Steam, Microsoft Store e Xbox Game Pass. E você, já jogou Tell Me Why? O que achou do jogo?

Muito em breve teremos um podcast com a participação de vários membros da equipe do Insira a Ficha e convidados para debater Tell Me Why e compartilhar nossas opiniões e considerações finais sobre o game! Fiquem de olho!

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Escrito por

Núcleo de jornalismo de tecnologia e games da Universidade Federal de Santa Catarina. Criado por estudantes, coordenado por estudantes e mal redigido por estudantes

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