segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Duelo IaF Jogo mais Machista: Harvest Moon Back to Nature X Duke Nukem Forever

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Mateus Mognon — Harvest Moon Back to Nature
Duke Nukem é machista, mas é difícil bater uma sociedade patriarcal do interior nesse quesito. Quando você joga o icônico game de tiro protagonizado por um cara badass, já sabe que vai encontrar violência, objetificação e desigualdade, porém, em Harvest Moon isso não fica evidente, pois todo o machismo está incrustado na sociedade e nos fatores culturais do game.

Com toda a felicidade e animais sorridentes, Harvest Moon mostra um homem vivendo em sua fazenda e, depois de um tempo, se casando com a filha de outro homem igual a ele, um pai que coloca comida na mesa e comanda a família de forma arbitrária. Além disso, não existe a possibilidade de ser uma fazendeira. Uma jogabilidade tão boa, divertida e bonitinha, mas sem opção de escolha de gênero, assim não tem como defendê-los, desenvolvedores.

Eu não ainda não tinha parado para pensar em Harvest Moon por esse lado e, caramba, o jogo é muito machista. Tá na hora de lançarem um novo game da franquia e ajeitarem isso, pois uma jogabilidade tão boa não merece ficar marcada com uma das campanhas mais machistas da história dos videogames.


João Bosco Cyrino — Harvest Moon Back to Nature
Por mais que seja um amante incondicional de toda a franquia Harvest Moon temos que ser realistas: seu machismo dá nojo. Felizmente muitas das críticas já foram resolvidas nos jogos mais recentes, porém nem isto é suficiente para apagar o passado da franquia.

Vamos aos fatos: homem, da etnia dominante do universo do jogo com terra, casa, e um capital inicial para começar a vida. Qual é o papel da mulher nessa ascensão e “luta por um futuro melhor” do homem dominante? Distração, diversão, comodismo, alguém pra lavar as ceroulas — escolha qualquer opção porque, ao final, todas estão certas.

Em Harvest Moon o personagem não se apaixona e se casa, ele “se acomoda” na vida. Trabalha o dia todo para conseguir o sustento da família e “pede pouco” em troca. Como diria Gaston de A Bela e a Fera, ao tentar pedir Bela em casamento: “Imagine: uma cabaninha rústica, minha última caça assando no fogo. Minha esposinha… Massageando os meus pés”. Isso é o mínimo que o homem trabalhador da sociedade patriarcal pede em troca.

E não para por aí, uma das características é que a pretendente escolhida determina também qual será a profissão do seu futuro filho. Ou seja, se o jogador sentir atração por pretendete X, mas não quiser que o filho seja, por exemplo, um pintor, terá que casar com Y para que ele seja fazendeiro e “siga os passos do pai”. Vale lembrar que nos primeiros jogos da franquia não importava a esposa, o bebê SEMPRE seria homem.


Willian Ferreira Vieira — Duke Nukem Forever
A franquia Harvest Moon se salva de ser totalmente machista por permitir que você escolha jogar com uma personagem feminina.

Duke Nukem Forever é só machista mesmo. Sem desculpas de ser de uma sociedade diferente, onde ninguém brigou por igualdade ainda, pois o jogo já se passa depois de 1997 numa sociedade onde já tinha briga por igualdade. Mesmo assim ele continua a ser muito machista. Não tenho muito a falar do jogo, só jogue e você vai ver porque acho que Duke Nukem Forever é o jogo mais machista.


Luiz Fernando Menezes — Harvest Moon Back to Nature
A primeira vez que joguei Duke Nukem foi bem parecida com a primeira vez que eu joguei Mortal Kombat 3 Ultimate: escondido da minha mãe, com o volume baixinho pra ela não ouvir. A capa do jogo, o cara da locadora e até meus amigos falavam que se tratava de um jogo para adultos e que não devia ser jogado por crianças. Ou seja, eu fui jogar sabendo que tudo que aparecia era errado, que não devia ser “copiado”.

Harvest Moon não. Harvest Moon era visto como um jogo educativo ou até “bonitinho” como diziam meus pais. Eles compraram uma cópia sem eu pedir. Eles deixaram claro que o jogo era “certinho” e que tudo que estava lá era bem próximo do real.

E aí, meus amigos, é que vem o problema.

O que é Harvest Moon? Um jogo onde um homem rala o dia inteiro para poder ganhar dinheiro e dar flores ou itens valiosos para mulheres brancas interesseiras que só se apaixonavam por quem lhe dessem presentes (e tivessem a casa com upgrades no máximo). Um jogo que acaba logo depois de você casar, deixar a esposa trancafiada em um quarto sem comida e sem entrada de luz. Um jogo que o filho sempre é homem, sempre um herdeiro de sua fortuna e de sua cultura machista. E onde que isso é “certinho”?

Duke Nukem é machista? É, e muito. Mas ele deixa isso bem claro. Harvest Moon é machista? É, e muito também. Só que ele se fantasia de jogo educativo e ensina essas coisas pra milhares e milhares de criancinhas inocentes por aí.


João Vítor Roberge de penetra — Duke Nukem Forever
Para começar, Harvest Moon tem várias versões com protagonistas mulheres. Ainda assim, as mulheres do jogo com protagonista homem têm todas um papel importante em Mineral Town.

Falando de Back to Nature, que é o que eu jogo:
- A mãe da Popuri é uma empreendedora, tem uma empresa na indústria aviária. Rala sozinha pra sustentar dois filhos e ainda assim a saúde dela não é das melhores
- A Manna vende os vinhos que faz com o marido dela, os dois trabalham juntos.
- A Ann é cozinheira e garçonete no Inn do pai dela.
- A Elli teve que lidar com a perda dos pais e cria o irmão pequeno sozinha com a ajuda da vó. É enfermeira.
- A Mary é bibliotecária
- A Karen trabalha no supermercado.
- A mãe da Karen dá sermão no marido porque ele é um banana que sempre faz fiado. É a cabeça pensante da família.
- Tem apresentadoras de TV
- Tem vendedora em “Polishop”.

Todas as principais têm personalidades diferentes e gostos diferentes, e é possível criar amizades com todas. A mulher em Harvest Moon não é apenas um objeto aleatório para cumprir um objetivo no jogo. Várias delas exercem um papel importante no enredo e em Mineral Town, e mais ainda, são independentes e participativas. É forçar a barra dizer que elas só servem para casar e cuidar da casa do protagonista.

O mesmo Back to Nature tem versão com protagonista mulher. Nesta versão, você também conquista a pessoa com presentes, da mesma forma que a versão com protagonista homem. Levando em consideração os poucos recursos nos primeiros jogos da franquia, não existiriam muitas formas de “conquistar” alguém além de uma mecânica simplória de presentear.

Os pontos que realmente pegam se quisermos a todo custo ver machismo em Harvest Moon Back to Nature é:

A partir do momento em que o protagonista tem uma esposa, ela fica na casa cuidando dos filhos. Você não mais a vê dando rolês pela vila e ela parece se tornar essencialmente uma dona de casa. (Ainda assim, isto acontece também na versão ~~para meninas~~: o cara fica com os papéis domésticos e a moça é que vai ralar pra sustentar a família). O filhote do casal sempre será menino. Algo que me frustrou durante o jogo.

Mas aí na versão feminina é a menina que rala o dia inteiro pra sustentar marmanjo e dar presentinho? Se quiser ver por esse lado, aí não tem o que fazer mesmo (lembrando que o matrimônio não é obrigatório no jogo). Podemos problematizar tudo, seria um jogo racista porque o Kai é o único personagem negro no jogo (e ainda só aparece no verão), que seria um jogo homofóbico pela ausência de personagens homossexuais e pela impossibilidade de casamento homoafetivo. Um jogo sem laicidade, porque existe uma única igreja, evidentemente cristã, e que tem um poder de influência no desempenho do protagonista. Ou mesmo questionar a protagonista em Harvest Moon: branca, cabelos lisos, padrão de beleza, etc. Ou o festival da primavera, com as meninas dançando. E daí em diante.

Há quem diga que esta discussão por si só não faça muito sentido, porque a maioria do IaF é homem, tomando o “lugar de fala” da mulher e assim roubando seu protagonismo nessa questão. A palavra que mais vale é mesmo a da Mariela. Damos pitacos aqui com os argumentos que podemos dar. Radicais dirão que “ozomi querem dar pitaco e cagar regra”, ao mesmo tempo em que acho legal estarmos trazendo este tipo de discussão à tona.

Entretanto, me parece desonesto avaliar o sexismo em Harvest Moon sem especificar a versão ou levar em consideração as versões de protagonismo feminino que foram feitas também para quebrar essa sina de jogo sexista. Quando se fala em Harvest Moon, se fala de toda a franquia, que contém sim, cada vez mais opções para o público feminino.

Meu voto em Duke Nukem é na verdade por ser impossível de eu votar em Harvest Moon como um jogo essencialmente machista. Por que não South Park - The Stick of Truth (em que as meninas são apenas uma instituição distante e figurante), GTA, Mafia, a franquia Mario, se quisermos mesmo pegar no pé nesse sentido? O sexismo na franquia Harvest Moon é muito fraco se comparado a outros games.


Harvest Moon Back to Nature 3 VS 2 Duke Nukem Forever

E mais uma vez fomos surpreendidos novamente: Duke Nukem Forever, considerado o "Game mais Sexista" já criado, perdeu para o clássico de Playstation. Harvest Moon Back to Nature é o quinto título da franquia e foi lançado no Japão em 1999, e chegou nos Estados Unidos um ano depois. Assim como disseram alguns dos votantes acima, teve uma versão "For Girls", lançada apenas no Japão em 2004.

Mas agora vamos à parte séria: não estamos dizendo para os leitores pararem de jogar nenhum dos dos jogos por causa do machismo, seja ele aparente ou implícito (do mesmo jeito que as pessoas ainda podem ler Ernest Hemingway, Rubem Fonseca ou, sei lá, Jane Austen). É necessário que pensemos no contexto de cada jogo e no objetivo de cada um. Harvest Moon foi criado no Japão e para o Japão, e retratava uma sociedade rural do interior. Já Duke Nukem é uma paródia dos herois masculinos clássicos de filme de ação(Rambo, Chuck Norris...).

A questão é outra: o videogame, acima de tudo, é um meio de comunicação de massa, é uma mídia em que crianças, adolescentes e adultos consomem histórias e, consequentemente, discursos. Sendo assim, fica claro que devemos discutir sobre o conteúdo dos games para não ir compartilhando ideias retrógradas como machismo, racismo, padrões de beleza etc.
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Escrito por

Núcleo de jornalismo de tecnologia e games da Universidade Federal de Santa Catarina. Criado por estudantes, coordenado por estudantes e mal redigido por estudantes

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